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22 de setembro de 2010

PARA SABER MAIS:

As linguagens artísticas e suas possibilidades de leituras - Teatro

Profª Dra. Vera Rocha
Doutora em Educação/Ensino de Arte
Pesquisadora Permanente da Pós- Graduação em Artes Cênicas e
Professora Visitante do Departamento de Artes Cênicas da UFRN



Discutir e refletir a prática do ensino de arte no que diz respeito às ações pedagógicas do professor, acreditamos ser uma medida louvável e que demanda uma atitude de constância, uma vez que o preparo do professor para o ensino da mesma vem sofrendo, ao longo da história da educação, uma série de preconceitos e equívocos.
O que mais se ressalta nas propostas contemporâneas, de ensino de arte, é a necessidade da alfabetização estética e artística dos indivíduos, pois só desta forma o Homem (ser social e cultural) terá condições de situar-se no mundo, interagir com ele em todas as suas várias dimensões tornado-se um criador de cultura.
Se nossa abordagem diz respeito às linguagens artísticas e suas possibilidades de leituras, importante se faz situarmos nosso entendimento sobre arte e sobre o ato de ler.
Nosso entendimento de arte é o que a define como conhecimento construído pela humanidade, sistema de signos usados pelo ser humano para comunicar, revelar, denunciar, expressar, propor; ou seja,como formas de perceber, ver e interagir com o mundo.
Como construção cultural a arte marca e é marcada pelo contexto sócio-econômico, pelo tempo histórico no qual é produzida e como toda produção humana, ela está sempre em processo de transformação. Se buscarmos clareza dos elementos que são estruturadores da arte como linguagem, como sistema sígnico, ou seja , como construção cultural, teremos condições de formular propostas mais adequadas ao seu ensino, de modo que os indivíduos se apropriem das linguagens artísticas numa perspectiva ampla, histórica e, portanto transformadora. Possibilitando desta forma uma leitura de mundo mais completa, num amplo espectro de seus vários dizeres.
Ao abordarmos a questão da leitura não podemos desconsiderar os múltiplos olhares, múltiplos interesses que cabem a mesma, uma vez, que o que vai determinar o tipo de leitura dependerá de onde este leitor estiver situado na sociedade, levando em consideração os aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais, nos quais o mesmo se insere. e se relaciona
Consideramos ler como “inteirar-se do mundo e de si próprio como um processo de compreensão, de expressões formais e simbólicas, não importando por meio de que linguagem” (Martins,1994, p.30). Ou seja, nas várias linguagens. Ao consideramos o aspecto do ler/escrever, como código arbitrário “criado como instrumento de comunicação, registro das relações humanas, das ações e aspirações dos homens […]”.(Martins 1994, p.18); necessário se faz ter conhecimento do significado da representação dos códigos referentes a cada linguagem. Ser introduzido, ter acesso ao mesmo.
O ato de ler implica nas disponibilidades que o sujeito possui naquele momento, disponibilidades referentes a sua estrutura mental e orgânica que dizem respeito ao processo de aquisição para dados conhecimentos; bem como na relação que o leitor estabelece entre o texto lido com os conhecimentos já possuídos por ele, sobre a abordagem de dado discurso; bem como suas inferências, associações.
Todo discurso insere-se em um dado tempo e espaço e revela-se além da simples decifração de seus códigos. De esta forma ler vincula-se a capacidade de compreender, de dar sentido ao que é lido.Sendo assim, nós só podemos compreender, dar sentido, o que para nós é significativo.
Ao abordarmos o teatro e suas possíveis leituras, primeiramente teríamos de identificar a que significado de teatro estamos nos referindo; estamos nos referindo ao prédio onde se realizam espetáculos teatrais? A profissão de ator? Ex. fulano faz teatro. A um conjunto de textos dramáticos? Empresa de espetáculos? Ex: Teatro Novo Mundo – Cia. de Entretenimento. Através do próprio termo Teatro, já podemos perceber a multiplicidade de significados que este possui, dependendo do contexto em que foi produzido.
Em nosso caso específico abordaremos a escrita cênica teatral - o espetáculo de teatro; teatro enquanto linguagem artística, enquanto processo comunicativo – a representação teatral. Neste sentido o processo de acesso ao seu entendimento implicará no acesso ao conhecimento da constituição básica desta linguagem.
Na representação teatral tudo é signo; o texto do autor, a iluminação, a cenografia, o desempenho do ator, etc…; tudo é convenção. Que ao longo do tempo e de sua prática se estabelece passando a identificar a identificar épocas, países e escolas, conforme abordagem de Girard, Oulet e Rigault (1980, p.27).Só o ator não é signo, o ator no caso é ele próprio.
A linguagem teatral utiliza-se de várias outras linguagens: da gestual, da música, da iluminação, etc; porém ao fazer uso de outras linguagens , de outras artes, não significa que o faz num ajuntamento ou superposição aleatória das mesmas. Estas diversas linguagens são ordenadas e relacionadas de forma específica, ou seja, dentro de padrões básicos referenciais da linguagem teatral, que ao nos depararmos diante de dada manifestação estética seremos capazes de identifica-la como teatral.
A organização destas linguagens distintas, numa mesma perspectiva e dentro dos princípios do fazer teatral é que constituirá o seu discurso. E a que referencial básico nos referimos? Neste sentido farei uso da referência feita por Fernando Peixoto (1980, p. 09), ao situar a representação teatral:
“Um espaço, um homem que ocupa este espaço, outro homem que observa. Entre ambos, a consci6encia de uma cumplicidade, que os instantes seguintes poderão até atenuar, fazer esquecer, talvez acentuar: o primeiro, sozinho ou acompanhado, mostra um personagem numa determinada situação, através de palavras ou gestos, talvez através da imobilidade e do silêncio, enquanto o segundo, sozinho ou acompanhado sabe que tem diante de si uma representação[…], previamente ensaiada ou improvisada […] de acontecimentos que reconstituem imagens da fantasia ou da realidade.”.
A relação estabelecida por esta tríade é marcada pelas influências sócio-políticas econômicas e culturais, ao longo da história; neste sentido podemos dizer da impossibilidade de uma única definição de teatro poder dar conta dos vários teatros existentes, que foram se estabelecendo ao longo dos processos histórico-culturais no mundo.Vamos ter o teatro que se estruturou sobre a primazia do texto; sobre a primazia do ator; do improviso; do diretor; e etc. Vamos ter o teatro que hora relega o papel do autor; hora relega o papel do ator ou da platéia. Também vamos verificar a constituição dos vários gêneros teatrais e a variação de sua função social.
Ao situarmos nosso referencial sobre arte, sobre leitura e sobre teatro, o fizemos no sentido de subsidiar as possíveis leituras que poderão advir a partir da relação estabelecida a partir deste entendimento; proposta pelo professor aos seus alunos, objetivando o acesso dos mesmos a linguagem teatral, aos elementos básicos que constituem esta linguagem.
Neste intuito consideramos de fundamental importância o professor ter clareza do objetivo do trabalho a ser desenvolvido com os alunos; considerar o entendimento que o aluno já possui sobre esta linguagem; e o nível de desenvolvimento cognitivo do mesmo. Consideradas estas questões iniciais, então o conhecimento dos códigos teatrais poderão ser ampliados, a leitura teatral poderá ser enriquecida através da introdução de outras leituras; da relação que se pode estabelecer entre os vários elementos que constituem a linguagem teatral numa dada encenação, numa dada época; ou a sua variação em relação a um contexto histórico específico; a um gênero; a um estilo ou a um tema.
Sendo a leitura das linguagens artísticas a produção de sentido através da apreensão das significações desta linguagem num dado tempo e espaço, através da inte-relação da mesma, feita pelo leitor, com seu tempo e espaço (seu contexto histórico –social) através de suas emoções, sensações e dos conhecimentos dos seus códigos. Neste sentido permitindo sua decodificação ter múltiplas interpretações. Neste sentido permitindo ao aluno seu acesso a cultura, contribuindo para que ele seja um criador de cultura.

REFERÊNCIAS
GIRARD,Gilles; OULELLET Real e RIGAULT Claude. 1980.O Universo do teatro – Coimbra: Almedina
MARTINS, Maria Helena. 1994. O que é leitura. – São Paulo: Brasiliense.
MARTINS, Miriam; PICOSQUE Gisa e GUERRA, Terezinha. 1998. Didática do ensino de arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. – São Paulo: FTD,
PILAR, Analice Dutra ( Org.) 1999. A Educação do olhar no ensino das artes. Porto Alegre: Ed. Mediação.
PEIXOTO, Fernando.1980. O que é teatro – são Paulo.Brasiliense.
J. GUINSBURG; COELHO, Teixeira;CARDOSO.Reni.1978. Semiologia do teatro (coletânea). – São Paulo: Perspectiva

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